Benoît Fournier

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A Fotografia como Memória Líquida: O Universo Poético de Benoît Fournier

No mundo contemporâneo — fragmentado, veloz, saturado de imagens — a fotografia perdeu o direito de apenas provocar suspiros. Ela precisa provocar significado. É nesse contexto que se insere o trabalho do artista francês Benoît Fournier, que vive no Rio de Janeiro desde 2006 e transforma a água em metáfora, tema e desafio estético.

Fotografar: ver, lembrar e reinterpretar

“Se podemos ver tudo, por que inventamos um jeito de lembrar?” — essa pergunta abre o ensaio que acompanha o trabalho de Fournier e sintetiza sua inquietação. O fotógrafo, iniciado na arte por um presente do pai, não se contenta em capturar imagens belas. Ele busca o instante que nos confronta. Para ele, nenhuma fotografia é a mesma duas vezes — ela muda, como um livro aberto, a cada novo olhar.

O fascínio pela água

Fournier se apaixonou pelo mar carioca e pela força visual da água. Não como cenário para paisagens óbvias ou estéticas de cartão-postal, mas como elemento fluido, simbólico, que nos escapa. Sua jornada o levou a buscar a “textura do líquido” em rios, igarapés e florestas alagadas da Amazônia, onde começou a registrar as diferentes perspectivas que a água oferece — de cima, de baixo, no limite entre mundos.

Com uma câmera em caixa estanque, Fournier mergulha não apenas na água, mas em uma nova visão. A superfície e o fundo se cruzam. O concreto e o sal se misturam. O retrato vira documento, o documento vira poesia.

Entre o ensaio e o acaso

Suas imagens habitam a tênue fronteira entre o ensaio e a documentação. Mesmo quando parecem registros documentais, há nelas um domínio provocador do olhar. Ele não sabe o que encontrará — e isso é parte da experiência. A água, incontrolável, impõe-se como protagonista, desafiando constantemente o fotógrafo: qual será a próxima imagem?

Cidades reais e imaginárias

A poética de Fournier cria cidades líquidas. Entre folhas flutuantes, pedras como oferendas, pontes que cortam o horizonte e volumes que lembram cenas de ficção científica, surgem composições onde a terra se dissolve na água. E vice-versa. As cidades que ele revela são tanto reais quanto imaginárias — reais porque são feitas com técnica e equipamento, irreais porque a água, em movimento, é sempre epifania.

Conclusão: ver não é perceber

No tempo da “era do selfie”, ver não é mais suficiente. É preciso perceber, refletir, sentir. E é isso que as imagens de Benoît Fournier nos propõem: uma pausa líquida no cotidiano sólido. Um convite a mergulhar na profundidade de nossas próprias percepções.

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