Benoît Fournier

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A Queda do Céu e a Arte que Pulsa: Reflexões sobre Propriedade, Natureza e Resistência

Na introdução de A Queda do Céu, livro escrito por Davi Kopenawa em parceria com Bruce Albert, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro destaca as palavras de Kopenawa como um tratado de “contra-antropologia dos brancos”. Ele aponta para nossa obsessão, enquanto sociedade ocidental, em ignorar a morte, uma fixação que se entrelaça com a lógica da propriedade e da mercadoria. Nosso pensamento, preso a essas estruturas, nos distancia de uma relação mais profunda com o mundo.

Essa crítica ressoa na exposição que destacamos aqui, especialmente na série Cativos, do artista Benoit Fournier. Suas esculturas, feitas de arames — material associado a cercas, fronteiras e demarcações de propriedade —, não apenas denunciam a persistência da violência colonial, mas também nos convidam a refletir sobre como nossa racionalidade cartesiana, que separa corpo e mente, natureza e cultura, nos conduziu a um ponto de ruptura. Fournier usa o arame, símbolo de divisão, para questionar a ideia de posse e revelar como ela molda nossa relação com a terra.

A separação entre natureza e cultura, tão enraizada no pensamento ocidental, é desafiada pela cosmovisão indígena que permeia A Queda do Céu. Tudo que existe é natureza, é gente, é vivo, é pulsão e fluxo. Como diz o artista Ernesto Neto, “somos filhos de muitas histórias, mas só nos contam uma”. As obras de Fournier, como seus retratos em folhas criados em vivências com comunidades indígenas, nos reconectam a essa multiplicidade de histórias. Elas tornam visíveis as vidas silenciadas — o genocídio dos povos indígenas e a destruição da terra — e nos convocam a sentir e agir.

Se a arte, como um sopro, pode lançar luz sobre essas questões, que ela nos desperte. As cores, sons e movimentos capturados nas obras de Fournier nos lembram que a terra da qual nos afastamos, na busca ilusória por um céu metafísico, filosófico ou religioso, pulsa com saberes e sensações que precisamos reaprENDER. Que a arte, com sorte, nos ponha em consciência e em ação.

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