Benoît Fournier

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Benoît

Fournier

Poética da Osmose: Arte, Floresta e Resistência

Um francês no coração da Mata Atlântica

Quando o artista Benoît Fournier chegou ao Brasil, trazia na bagagem o olhar treinado da fotografia — e talvez a inquietação típica de quem cresceu entre montanhas nevadas e procurava algo além do horizonte conhecido. O destino o levou ao Rio de Janeiro, onde a paisagem não apenas muda, mas transborda: ali, o relevo desce em escarpas abruptas até o mar, entrelaçando-se com a mata, o concreto e o calor úmido que gruda na pele.

A cidade maravilhosa, muitas vezes reduzida a estereótipos de praia e samba, revelou-se para Benoît como uma invenção urbana no coração de um bioma ameaçado: a Mata Atlântica, floresta tropical que um dia cobriu 3.500 km do litoral brasileiro e hoje sobrevive fragmentada, com apenas 15% de sua extensão original. Foi ali, na convivência direta com esse ecossistema — e também com as contradições sociais que o cercam — que sua arte começou a se transformar.

A favela, o lixo e a floresta

Ao se fixar em uma favela carioca, Fournier mergulhou não apenas na experiência humana dos contrastes urbanos, mas também em uma relação visceral com o entorno natural. Com o tempo, percebeu que o lixo — especialmente o lixo orgânico — não era apenas um resíduo, mas um sintoma de desequilíbrio ambiental. Um espelho da ruptura entre cidade e floresta, consumo e natureza, vida e esgotamento.

Foi desse entendimento que surgiu a série Osmose, ponto de inflexão em sua trajetória artística. O projeto nasce da observação atenta dos processos naturais: folhas caídas, galhos secos, raízes queimadas. Todos esses fragmentos são recolhidos no interior da floresta e convertidos em matéria artística. Ao invés de representar a natureza, Fournier colabora com ela, incorporando seus ciclos de decomposição, transformação e resistência.

Impressões do invisível

As obras de Osmose ultrapassam os limites da fotografia tradicional. São serigrafias feitas sobre elementos orgânicos “mortos” — mas que, nas mãos do artista, renascem como espectros. Há algo quase ritualístico no modo como Fournier trata os materiais: ele esfrega tecidos em troncos, envolve raízes calcinadas, imprime silhuetas em superfícies marcadas pelo tempo.

Essas imagens carregam um tipo de presença que resiste ao desaparecimento. São como fantasmas da floresta, testemunhas silenciosas de uma devastação em curso. Muitas dessas obras retratam ativistas ambientais — guardiões da mata, frequentemente ameaçados ou assassinados por defenderem a vida onde outros veem apenas exploração.

Arte como aliança com a Terra

Ao unir sua prática artística à causa ambiental, Benoît Fournier não apenas representa uma paisagem: ele toma partido. Sua arte é um gesto político e sensível, que ecoa os gritos abafados de uma floresta em risco. Com a exposição Osmose, ele se junta simbolicamente aos defensores da terra, reafirmando que a natureza não tem nacionalidade, e que as florestas — brasileiras, africanas, asiáticas — pertencem a todos nós.

Em tempos em que a arte muitas vezes se isola em circuitos estéreis, o trabalho de Fournier reconecta estética e ética, forma e urgência. Ele nos lembra que criar também pode ser um modo de cuidar, e que olhar para a natureza exige mais do que contemplação: pede ação.

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